Foto novela. Por onde?



Foi quando ele acordou.
Amanhecia mais um dia invernal, daqueles sem nuvens no céu, apenas a sensação cortante dos lábios, que buscavam um café quente para compreender aquele turbilhão de sensações. Os lábios, então rachados pelo frio, começavam a perturbar.
_será que estou despertando?
Mais uma vez Eugenio se deparou com a virtude. O sonho foi perturbador. Já eram sete horas. Seria mais uma jornada como a de costume, o mesmo caminho trilhado há cinco anos, para seu oficio. Que nem ele mais sabia a razão de estar lá. 
_jurista diria eu. Jurista, o que há de justiça dentro de mim que possa justificar os outros?
Não era só um pensamento, a chaleira ressoava, era hora de fazer o café. Não quis frutas, apenas um misto com bastante queijo. Ele colocou na máquina e esquentou, deixando o pão torrado por fora e a manteiga por escorrer. Enquanto se debruçava sobre a comida, em pé mesmo, a manteiga caiu sobre a camiseta de seu pijama.
_Gordura é mais difícil de tirar a mancha. Vou ter que pedir para Ivonete, sexta-feira quando ela vier, para que retire. Vou colocar de molho.
Existem gorduras que são realmente mais resistentes a clareza das ideias que são como água. Não se misturam. Ele por vezes exclamava suas frustrações, de cunho superficial. Já sua cabeça era um turbilhão, nem só uma voz
falava, eram tantas que se perdia ao tentar administrar.
_quantos processos, já é quarta-feira. Amanhã tenho dois prazos, estou precisando de um estagiário.
Não acreditava mais na seara de que existiria amanhã um recurso melhor que o de hoje. Costumava dizer que nessa disputa ninguém iria ganhar. Costumava a se recordar de seu avô, que o provocara o oficio. As vezes sentia vaidade. Sou eu o detentor dessa proteção. Quem mais além de mim tem o caminho para o que é justo. Nem Deus. Ou eu?
_estou atrasado, tenho um cliente as nove.
E sem tomar banho foi pelo mesmo caminho, aquela avenida tortuosa dos semáforos sem sincronia. Estava elegante como de costume, seu porte médio era esbelto. Tinha lavado o rosto, colocado um gel nos cabelos. Sua gravata vermelha de seda, com um nó Windsor, muito bem alinhada. O paletó cinza escuro sólido, camisa branca engomada, sapatos marrons de fronte ovalada. Não lhe poderia faltar o Ray-ban, e seu perfume favorito o Roadster Cartier.
Gostava da vida mansa, desprezava os clientes, porque pensavam de forma indecente, fruto da intriga cotidiana. Era um advogado Cível. 
Mas ria quando lhe pagavam, porque dos gastos mais esdrúxulos podia usufruir. Era um exímio jogador de paddle. Estava terminando de pagar sua primeira BMW Z4, um conversível de cor azul. E o loft alugado era o antro do prazer. Foi quando Minerva ligou.
_tá ocupado?
_não, acabei de atender um cliente. Vou ali na rua 24h no café da esquina, tomar um macchiato e voltar aos processos.
_vamos ao cinema hoje? Queria assistir um filme blockbuster hoje e colocaram em exibição no novo batel aquele filme Her.
_Ok, que horas? Vamos só nós?
_sim apenas eu e você, as 19h. Tenho que desligar, to com outra ligação na espera, acho que é aquela senhora que quer decorar o apartamento. Estou gostando de ver você sem mexer em redes sociais.
_Ironias a parte, já bastava o filme.
_Beijo, te busco as 18h.

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