Uma breve reflexão sobre o solipsismo e a teoria dos sistemas
RESUMO
A proposta do artigo é pensar a respeito do solispsismo e
através do levantamento de dados tentar representar seu funcionamento, pela via
das relações de comunicação e linguagem do indivíduo, embasado pela teoria dos
sistemas, adventos da neurociência e psicologia social. A compreensão faz-se
através do pensamento da forma de funcionamento individual do ser, onde tudo
que o permeia é criação de sua individualidade e como essa interação em
sociedade caracteriza-se em uma ilusão de interação, através da técnica de
reprodução, a qual é inata de um ser que age de uma forma reflexiva e acaba por
fazer-se propagador de conteúdos por sua capacidade de assimilação por possuir
uma base comum de esquemas funcionais semelhantes, porém singulares.
Questiona-se até que ponto o sujeito situa-se como parte de um todo ou por sua
visão fragmentada encontra-se destinado a existir somente para si.
Palavras-chave: Solipsismo.
Linguagem. Interação. Comunicação. Psicologia. Neurociência. Teoria dos
Sistemas.
INTRODUÇÃO
Uma breve reflexão
sobre o solipsismo e a teoria dos sistemas, consiste em um questionamento a
respeito do funcionamento do sujeito, se é de uma forma extremamente
individualista onde ele se coloca em uma situação central do universo e que
tudo a sua volta perfaz uma criação de sua realidade, ou se existe uma
possibilidade deste ser integra-se e perceber-se atuante dentro de um organismo
vital mais abrangente e complexo. O que faz com que o indivíduo se comporte da
forma que se comporta nas funções em sociedade, até que ponto sua interação é
autônoma e individualista, ou é influenciada pelos demais, o ser humano
sente-se atuante como parte integrante de um sistema maior tendo consciência
disso ou é algo imperceptível, de qual forma a comunicação afeta o sujeito e
como ele se comporta nas circunstâncias que o afetam. Através de levantamento
teórico a respeito de linguagem, comunicação, teoria dos sistemas, psicologia
social e neurociência, a proposta deste artigo é problematizar a interação da
visão filosófica do solipsismo em relação com a teoria dos sistemas.
O SER E O OUTRO
Pensar em solipsismo
é debruçar-se a respeito de sistemas singulares funcionais, dotados de
características individuais e de fenômenos que são datados como vivências,
deles decorreram emoções singulares, compreensões de objetos, mensurações
individuais, valorização, definições únicas do ser, mas que em uma visão
holística não pode excluir-se o núcleo social que este indivíduo está inserido, sistema político, sistema econômico, sistema
cultural, sistema religioso, sistema filosófico e por fim o âmbito temporal,
onde fatores externos acabam estimulando a perspectiva do ser, pensemos do
microssistema, mesossistema, exossistema, macrossistema ao cronossistema. Dentro
desta perspectiva os estímulos os quais o indivíduo sofre no decorrer de sua
vivência, juntamente com ensinamento de Maturana (2001), indispensável para
compreensão dos confluentes da existência do ser, existe o determinismo estrutural parte rígida, a qual é derivado da autopoeise que se traduz no
constante devir, sendo este determinismo uma estrutura plástica estável e única
responsável pelas interações com o meio.
Este sujeito dotado de singularidade ao ter
uma conexão com o mundo a faz de forma autêntica, referenciada em sua
hereditariedade e interação com o meio, seus sentidos também são de maneira
singular, mas ao agir com outro ser humano existe o ato reflexo que permite que
o indivíduo tenha relações e percepções comuns.
Ao se falar em
relação, interação ou comunicação são os primeiros substantivos que nos
acometem os pensamentos, previamente estruturados através do conjunto de
símbolos que são secundários a linguagem, que por sua vez transmitem uma
mensagem pelo sentido do emissor ao receptor, por meio de um código. É
interessante aplicar-se na caracterização da Teoria dos Sistemas a respeito
desse fenômeno onde a linguagem parte do princípio de que a conexão entre
emissor e receptor gera uma terceira entidade a qual nos faz compreender a
lógica do código preenchendo o espaço ilusório criado ao dialogar-se e
sucessivamente a propagação de informação, vale ressaltar os entendimentos de
Maturana (p27, Ibid):
Somos observadores
no observar, no suceder do viver cotidiano na linguagem, na experiência na
linguagem. Experiências que não estão na linguagem, não são. Não há modo de
fazer referências a elas, nem sequer fazer referência ao fato de tê-las tido.
A linguagem é fator indispensável
para a construção do indivíduo, mas o que é o indivíduo? Para descoberta de
Gilbert, Dan et al. (2010), existe a variabilidade da modificação do sujeito,
desde sua personalidade a preferências e a diferença é apresentada em uma
determinada janela temporal, num período observado de dez anos, ou seja, nada é
determinante para que esse indivíduo tenha uma característica compreensível de
si mesmo, exceto a determinante estrutural que é o que faz com que a
singularidade desse sujeito se perpetue e dê uma sensação de pertencimento aos
fenômenos exteriores a ele em detrimento da linguagem, à luz da compreensão de
Capra (p213, 2006):
Esse
mundo humano inclui fundamentalmente o nosso mundo interior de pensamentos
abstratos, de conceitos, de símbolos, de representações mentais e de autopercecpção.
Ser humano é ser dotado de consciência reflexiva. “Na medida em que sabemos
como sabemos, criamos a nós mesmos”.
Ao
criarmos nós mesmos, nos deparamos com o outro e o achamos diferente de nós,
porém ele nos é familiar, pois nos enxergamos nele, a perspectiva da descoberta
de Hasson, Uri et Al (2010) pode nos elucidar o funcionamento cerebral desse
fenômeno, em seu estudo apresenta através de experimentos em seu laboratório em
Princeton, pela utilização de ressonância RMF para escanear o cérebro dos
participantes enquanto eles ouviam histórias reais, o funcionamento do diálogo
e a recepção de informação pelo sistema nervoso central. Foi nítido no
experimento que na comunicação o que ocorre primeiramente é um sincronismo
físico, através do córtex auditivo, posteriormente um sincronismo neural nas
demais partes do cérebro sobre o que aquela história representa em determinado
contexto. Interessante que para comunicação ocorrer em termos neurocientíficos
é necessário existir um mecanismo básico comum para se perpetuar um sistema de
crenças compartilhadas. Outra informação descoberta no estudo foi que de acordo
com o conhecimento prévio do sujeito a informação interage de uma forma
distinta no cérebro, moldando assim percepções diferentes do que foi exposto,
vale ressaltar a ressalva de Uri de que as pessoas que nos conectamos moldam
quem somos.
O solipsismo em si é
o funcionamento individual do ser a respeito daquilo que o permeia, pois por
mais que se comunique inexoravelmente terá uma proposta singular a respeito do
tema em analise determinante de sua localização espaço temporal, por mais que
exista uma linguagem determinante que permita a aproximação de um ser com o
outro e a aquisição e propagação de conhecimento, os fenômenos sempre serão
únicos, a similaridade existe com operadores teóricos semelhantes o que permite
o avanço, porém o fenômeno sempre é singular.
Isso ao apenas se
tratar de um processo de comunicação com operadores funcionais semelhantes,
podemos experimentar histórias com uma forma de interação por um tanto parecida
pelo processamento neuronal, mas de acordo com a nossa instrução prévia que é
dotada de várias determinantes sistemáticas faz com que o fenômeno seja
reduzido a uma compreensão singular, porém ao reproduzirmos tal ideia a outro
indivíduo conseguimos com base nesse fenômeno por alguns instantes superar a
singularidade e entrar em uma conexão, entretanto a via a qual será conduzido o
estímulo e de qual forma ele irá sustentar-se na relação fenomenológica do ser
é algo particular. O que nos resta é pensar que a comunicação é algo mutável,
agregador e ao mesmo tempo singular, porque o que o outro escuta
sistematicamente é compreensível, todavia o que ele assimila não é
determinável, da mesma forma quando somos influenciados agimos de uma forma
singular, cada vez mais nos separando dos demais. Processo esse devido ao
aprendermos a nos ortopedizar através da ferramenta de introspecção proveniente
da linguagem.
O que gera uma
inquietação é que através dessa constatação a respeito da formatação singular o
eu oriundo dessas relações, percebe-se agente transformante e transformado das
relações, ou ele cai em uma percepção fragmentada derivada das comunicações ao
decorrer de sua formação e se extrai do fator abrangente natural que foi depositado
pela sua estrutura plástica inicial. A perpetuação da singularidade faz com que
o indivíduo veja o mundo somente da forma comum aos que o permeiam, daquilo que
ele consome e agrega de ferramenta de linguagem comum, ou pode vir a ter uma
noção mais abrangente daquilo que o cerca? Existe uma entrada léxica nesse
programa da linguagem que faça o indivíduo deixar de viver em um mecanismo
solitário e passe a compreender todo o sistema ao seu redor, ou ele ficará
preso a operadores teóricos comuns para propagação de comportamentos
semelhantes? A crítica ferramenta sofisticada do programa humano é uma condição
inata ou é adquirida?
Tais questões se fazem pertinentes a condição
de transcendência do sujeito sair de uma forma de operação determinante e individualista,
como base o solipsismo onde tudo é criação do sujeito, para uma percepção
holística, interativa onde o sujeito só é mais uma parte da engrenagem complexa
interconectada de todos os fenômenos abrangentes ao seu redor.
CONCLUSÃO
Como proposto neste
artigo, a intenção de controverter o fenômeno singular e subjetivo, denotado
como solipsismo como sistema funcional do indivíduo na relação de aquisição e
propagação de conhecimento através da linguagem e sua forma de atuação no mundo
através de uma estrutura plástica determinante que se molda com base nas
interações sociais, adquirindo operadores teóricos comuns em relação com a
teoria dos sistemas, a qual enxerga algo muito mais abrangente, complexo,
interconectado. Onde a singularidade como percebemos acaba sendo instrumento de
bases comuns para propagação de uma continua teia de relações que vão do micro
ao macro. O que fica claro é que muito ainda deve ser pesquisado e refletido
como essa interação da linguagem interfere no que diz respeito aos estímulos
que moldam o sujeito e de que forma acaba se perfazendo com que sua existência
atinja uma forma singular e uma interpretação dos fenômenos interiores e
exteriores a sua existência sejam compreendidos, não só tendo uma visão
solipsista. Procurando saber qual será o código inserido na linguagem para que
o sujeito tenha uma consciência crítica que se propague para um desenvolvimento
interpretativo de uma visão holística, onde tudo interage e a parte singular é
instrumento essencial das demais, procurando que se reconheça como agente
transformador, influenciador e mediador também como transformado, influenciado
e mediado pelo outro organismo em interação.
REFERÊNCIAS
MATURANA, Humberto. Transdisciplinaridade e
cognição. NICOLESCU, Bassarab et al. Educação e transdisciplinaridade.
Brasília: Unesco, 2000.
MOREIRA, Marco Antonio. The epistemology of
Maturana. Ciência & Educação (Bauru), v. 10, n. 3, p. 597-606, 2004.
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